[#HeroisReais] Yasmim Lima encontrou no judô a sua profissão e a oportunidade para dezenas de crianças

Se tem uma coisa que nós, Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU), gostamos, é de contar histórias. Boas histórias. Daquelas que ficam na memória, que embalam boas lembranças e dão um quentinho no coração. Ah, mas nós também amamos esporte! De quadra, que pista, de água, de campo, de concentração. Se gera movimento, a gente tá dentro! Então porque não contar boas histórias com uma pitada de esporte?

A partir de hoje, todas as sextas-feiras do mês serão dedicadas a essas histórias. Mas não só isso. Serão dedicadas aos protagonistas dessas histórias. As pessoas que treinam ao mesmo tempo que estudam. Que dividem seu tempo livre entre a família e os amigos. Que suam a camisa e mostram garra e determinação. Esses dias serão dedicados a vocês, #heróisreais.

Momento exato no qual Yasmim Lima conquistou o título de campeã brasileira sênior (profissional) em 2018. Foto: arquivo pessoal

Aos 4 anos de idade, uma garotinha dos olhos puxados começava a trilhar sua carreira esportiva. Naquela época, ela não podia imaginar o que o futuro lhe reservaria. Contrariando a mãe e os estereótipos sociais, ela subiu no tatame e começou a treinar judô com o irmão mais velho, depois da escola. Uma vez inclusive, chegou em casa com a blusinha da escola toda rasgada, por conta do treino. “Minha mãe não queria deixar no começo, ela achava que era esporte de homem”, relembra a atleta. Depois de muita insistência, a mãe viu que não tinha mais jeito e matriculou a pequena na modalidade.

Hoje com 23 anos, a menina apaixonada pelo esporte, é uma atleta real. Yasmim Lima, é a primeira personagem da série #heróisreais. Natural de Fortaleza – CE, ela conta que desde que começou, aos 4 anos de idade, não parou mais de treinar. Na carreira, coleciona os títulos de tricampeã brasileira universitária, campeã brasileira e pan-americana, em Lima – Peru. Porém, o que poucas pessoas sabem, é que por trás de todas as conquistas, teve muito suor e determinação.

Para ela, o maior desafio do atleta universitário no Brasil é ser atleta universitário. Conciliar a dupla jornada, de aulas e treinos, é muitas vezes exaustivo. Yasmim divide seu tempo entre o tatame e os estudos. A atleta mora no Rio de Janeiro e estuda Administração a distância na UniAteneu – CE. No seu tempo livre, se divide entre amigos e família.

Com 1,59 de pura força de vontade, Yasmim relembra um dos momentos mais marcantes em sua carreira esportiva. Aos 17 anos, foi convocada para lutar a seletiva olímpica em Osasco – SP, que reunia as 10 melhores judocas do país. A disputa era por uma vaga na Seleção Brasileira de Judô. “Eu nem era tão conhecida na época e pra maioria das pessoas eu estava indo só pra cumprir tabela”, conta. Yasmim explica que a expectativa era de que ela perdesse na primeira luta, no máximo na segunda, se estivesse inspirada.

Para a ocasião, os atletas participantes precisavam de 2 quimonos oficiais e uma faixa com selo internacional. Yasmim esclarece que esse tipo de vestimenta é bem caro e que na época ela não tinha o material. Então, a atleta conseguiu os quimonos emprestados com uma amiga, 15kg mais pesada do que ela. “Os quimonos ficaram enormes. A faixa, um amigo meu com mais de 100kg, cortou pela metade e me deu. Tenho ela até hoje guardada de lembrança”, conta Yasmim.

Yasmim poderia ter desistido. Poderia não ter se dado ao trabalho de tentar. Mas ela subiu ao tatame e fez bonito: ganhou várias lutas e terminou a competição em terceiro lugar, um feito inédito para a adolescente da época. “Cheguei no pódio no meio das mulheres que já eram todas profissionais”, lembra com orgulho. Para Yasmim, estar no tatame é sinônimo de liberdade, de força. “Ali ninguém pode fazer nada por mim e nem pela minha adversária. Sou só eu e ela. A sensação é de que eu tenho superpoderes”, complementa.

De olho na vaga olímpica para Tóquio 2020, Yasmim conta que nem sempre o judô foi sua meta de vida. Ela conta que com 14 anos já lutava nacionalmente, mas não se via competindo profissionalmente. Nessa mesma época, começou a namorar o Junior, hoje seu marido. Ele também era atleta de judô e compartilhou com ela a vontade de crescer no esporte, chegar na Seleção Brasileira de Judô principal e porque não, lutar em um Jogos Olímpicos. “Ele falava tanto nisso que eu comecei a querer isso até mais que ele”, conta Yasmim.

Depois de mudar sua vida e fazer do esporte sua profissão, Yasmim percebeu que era hora de transformar a vida de outras pessoas. De origem humilde, a atleta conta com orgulho, que cresceu em uma favela e encontrou no judô uma oportunidade de melhoria de vida. Com 18 anos, dava aula da modalidade em uma academia e conheceu alguns meninos que não tinham condição de treinar. “Eu olhava pra eles e me indignava aquilo, eles me pediam pra treinar e eu tinha que dizer não por causa do dinheiro”, explica.

Mais uma vez, Yasmim não se deu por vencida e foi até o proprietário da academia para negociar o treinamento dos meninos. Seguiu com a inquietação, refletindo se na comunidade em que morava, não tinham muitos outros meninos daqueles, com vontade, mas sem condições financeiras para treinar. Nesse momento, a atleta resolveu criar um projeto social, o Promessas de Deus.

Porém, no começo, a judoca afirma que eles não tinham nada, nem tatame. O primeiro material chegou em forma de doação, de uma academia que havia pegado fogo. “Tinha umas peças que tinham sido queimadas, e eu pensei assim: melhor que treinar no chão. Quando acabávamos de treinar naquelas peças, ficávamos todos sujos de tinta que soltava porque tinham sido queimadas”, conta. Com o tempo, o projeto conseguiu novos tatames e hoje, a iniciativa oferta judô gratuito para cerca de 100 pessoas.

O projeto não tem nenhum apoio financeiro. Todos os materiais foram doados por colaboradores ou comprados com as economias da Yasmim. A atleta conta ainda que divide seu dinheiro entre seu projeto social e o custeio do seu sonho para Tóquio 2020. E garante que as dificuldades estão aí para serem quebradas. “Lá na minha comunidade onde antes as crianças se espelhavam em ser igual o traficante, igual o assaltante hoje eles querem ser mais uma Yasmim Lima”, finaliza a atleta.

Lá na minha comunidade onde antes as crianças se espelhavam em ser igual o traficante, igual o assaltante hoje eles querem ser mais uma Yasmim Lima.

Yasmim é atleta. É universitária. É mulher. Carrega consigo o #girlpower e vive diariamente a sua luta e a de tantos outros jovens atletas. Yasmim é a prova viva que #heróisreais existem e estão mais próximos do que a gente imagina!

NOTÍCIAS RELACIONADAS