Entre os vários títulos do atleta estão os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs)
“O rugby me salvou”. Foi assim que André Luiz, mais conhecido como Boy, definiu sua relação com o esporte.
Boy começou a jogar em 2009, em uma época que estava imerso em festas e bebida. Entrou de cabeça no esporte e, em dois anos, foi convocado para a seleção brasileira. A partir daí, foi uma batalha – que valeu muito a pena – para conciliar trabalho, estudos, treinos e competições.
Em 2019, entrou na UNIP-SP para cursar Educação Física. De quebra, foi campeão dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) como jogador. Em 2024, foi campeão novamente, mas, desta vez, do lado de fora, comandando o time.
Hoje, André pode falar que foi atleta da seleção brasileira, é personal trainer, técnico de rugby 7 e trabalha com o que ama.
Como começou
Pode parecer estranho, mas tudo aconteceu “sem querer”. Em 2009, no Orkut, André viu uma foto de uma amiga em um jogo de futebol americano e achou interessante. As pessoas, os jogadores, a bola. Comentou que, se soubesse onde tinha aula em São Paulo, “entraria fácil”.
A amiga logo agilizou o contato e indicou o Clube Atlético São Paulo (SPAC). O problema – que, na verdade, se tornou solução – era que o SPAC era um time de rugby, não de futebol americano.
Ele chegou ao clube empolgado e, como forma de introdução, a equipe colocou um vídeo para apresentar um pouco mais sobre a modalidade.
“Eu comecei a assistir e fiquei pensando ‘não tem nada a ver com o que eu vi na foto’. Os caras sem capacete, sem ombreira, até a bola era diferente. Achei estranho. Mas gostei”, contou o atleta, que, até então, nunca tinha visto um jogo de rugby.
Mesmo sem conhecer nada, Boy, como foi batizado pelo time, foi chamado para treinar. Começou a gostar e foi ganhando espaço. No começo, não conseguia se dedicar completamente ao esporte por conta do trabalho de 16h às 23h em um restaurante. Como o treino era à tarde, ele tinha que escolher: treinar por menos tempo ou chegar atrasado no trabalho.
Ele se virava tentando equilibrar o atleta e o profissional. Depois de um tempo, pediu demissão e continuou crescendo pelo SPAC, onde começou a jogar campeonatos como o paulista e o brasileiro.
Um pouco depois, um colega de time o indicou para uma agência de câmbio. Desta vez, Boy tinha um chefe que também já tinha jogado e o apoiava. Assim, as coisas ficaram um pouco mais fáceis.
Dois anos se passaram e, para ele, o esporte seguia como um hobby. Até que descobriu que existia uma seleção brasileira de rugby.
Primeira convocação
A grande chance surgiu quando a seleção brasileira de rugby XV estava se preparando para o Sul-Americano e resolveu fazer um amistoso contra a “seleção do resto do mundo”.
André foi convidado para jogar do lado gringo e, apesar de o time ter perdido, se destacou novamente. O técnico da seleção brasileira de rugby 7 estava na plateia e convidou o jogador para fazer alguns testes.
Não demorou muito e, em junho de 2011, André começou a treinar com o grupo. No início de 2012, veio a primeira convocação para jogar o Seven de San Juan, na Argentina.
E esse foi só o começo. Ele ainda disputou Sul-Americanos, Pan-Americanos e Mundiais. O próximo passo era os Jogos Olímpicos.
Tensão para as Olimpíadas
“A seleção era um grupo de 20 a 25 atletas, mas você só podia inscrever 12. Uma galera ia rodar. Eu tinha uma grande chance de ser convocado porque eu era meio coringa, conseguia jogar em 4 posições diferentes. Mas todo mundo que estava lá era muito bom”, explicou.
Boy estava vivendo um sonho: representar seu país, em casa, na maior competição do mundo.
“Foi surreal. A gente dividia vestiário com os caras da Nova Zelândia, outras vezes com a África do Sul. Além de ter contato com atletas de outros esportes. Você tá indo almoçar e encontra com o Usain Bolt, com o Phelps, os caras que você vê na televisão”, contou.
O time já sabia que a competição seria difícil, já que as outras seleções têm mais tradição. Mas sabiam também que, se não dessem tudo de si, seria ainda mais fácil para os adversários. Então, todo jogo era uma final.
A equipe terminou em 12º nos Jogos. Apesar do resultado esportivo não ter sido o esperado por eles, com a participação nas Olimpíadas após 92 anos, o esporte cresceu no Brasil.
Estudo, trabalho e treino
Em sua carreira, André não contou nem com apoio financeiro, nem para os estudos.
“Eu sempre trabalhei enquanto jogava rugby. A seleção, hoje em dia, ajuda com salário e/ou bolsa na faculdade. No meu tempo não tinha isso”, lamentou.
Logo após os Jogos Olímpicos de 2016, André precisou fazer uma escolha: continuar no emprego ou continuar jogando pelo Brasil. Ele ainda tentou negociar com o técnico da época, que não cedeu. Assim, naquele ano, André encerrou seu ciclo na seleção.
Três anos depois, em 2019, André decidiu que estava na hora de investir nos estudos. Assim que entrou na UNIP-SP para cursar Educação Física, foi conversar com a Atlética da universidade e conseguiu uma bolsa para jogar.
“Eu nunca imaginei que me formaria por causa do rugby. Eu sempre paguei as minhas coisas e está tudo beleza. O dinheiro que eu economizei, aproveitei para investir em outros cursos para terminar a faculdade como um profissional mais completo”.
De jogador a técnico
Em 2023, Boy decidiu parar de jogar tanto pelo time quanto pela UNIP. “Tô velho”, disse ele com 36 anos.
Ele decidiu focar na Educação Física, nas aulas de personal e no coaching de crossfit. Mas, na mesma época, o então técnico do time da UNIP-SP também resolveu sair, e precisava de alguém de confiança para assumir o cargo. Fácil saber quem ele escolheu.
Também foi oferecida mais uma bolsa para pós-gradução. Agora, além de seguir na agência de câmbio, ser personal trainer, coach de crossfit e técnico de rugby, André é estudante de Treinamento Metabólico e Físico.
“Eu posso dizer que o rugby me salvou. Lá atrás, eu molecão com 18 anos, trabalhava em uma farmácia de manipulação, ganhava bem para minha idade e sobrava para gastar. Saía muito, comprava muita coisa, bebia muito, cheguei até a usar droga. Quando eu conheci o rugby, eu descobri o antidoping, entendi que, para se preparar é preciso treinar, que, se o seu corpo está bem, a chance de você machucar é menor. Foi um start para eu parar com essas coisas que estavam acabando comigo aos poucos”, finalizou.