No primeiro capítulo da série Mulheres no Esporte, falamos sobre a participação feminina nos Jogos Olímpicos de Verão; desde a primeira edição da Era Moderna, em 1896, até a busca pela equidade de gênero na edição de 2024, em Paris – se você ainda não conferiu, é só clicar AQUI. No capítulo de hoje da série, daremos destaque a trajetória de três brasileiras pioneiras no esporte, que deixaram seus nomes gravados na história, e atuaram em uma época na qual ser atleta era um ato revolucionário.
Atleta da natação, Maria Lenk (1915-2007) rompeu barreiras e se tornou a primeira mulher sul-americana a participar de uma Olímpiada – feito realizado nos Jogos Olímpicos de 1932, em Los Angeles, quando tinha apenas 17 anos. Ela disputou os 200m peito, mas com o tempo de 3m26s6, não passou para a final. No entanto, seu maior legado já havia se concretizado: participar de uma edição de Jogos Olímpicos em uma época extremamente preconceituosa com mulheres atletas. Além de ser a única mulher na delegação brasileira de 1932, para competir, precisou de um uniforme emprestado.
Em 1939, com 25 anos de idade e no auge da carreira, Maria Lenk se tornou a primeira atleta brasileira a bater um recorde mundial na natação, com 2min56s nos 200m peito. Em 1942, sem muitas perspectivas de competição, ela se aposentou, se graduou em educação física e ajudou a fundar a primeira escola de educação física do Brasil, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também foi professora e a primeira diretora mulher. A atleta também foi a única nadadora brasileira a entrar para o Hall da Fama da Natação, da Federação Internacional de Natação.
Maria Esther Andion Bueno (1936-2018) foi uma tenista brasileira que jogou durante as décadas de 50, 60 e 70. Conhecida como a rainha do tênis, foi uma das poucas atletas da modalidade a conquistar títulos em três décadas diferentes. Durante sua carreira, ganhou mais de 589 títulos internacionais; 19 deles em torneios de Grand Slam – os quatro eventos anuais mais relevantes do tênis – e, em 1960 entrou para história como a primeira mulher a ganhar os 4 eventos em um mesmo ano, jogando em duplas.
Quatro anos depois, em 1964, fez história novamente e colocou seu nome no Guinness Book, após vencer uma partida em apenas 19 minutos contra a americana Carole Caldwell Graebner. Aos 19 anos, Maria Bueno o ocupou a primeira posição do ranking mundial e, em 2012, foi incluída na 38ª posição do ranking dos 100 melhores tenistas da história, além de já ter sido eleita a melhor tenista da América Latina do século XX. A atleta se aposentou em 1977, e no ano seguinte entrou para o Hall da Fama Internacional do Tênis; sendo a única brasileira a conquistar o feito – além dela, Gustavo Kuerten, o Guga, é o único brasileiro a receber a honraria.
Mulher, negra, e nascida na favela, Aída dos Santos quebrou paradigmas sociais, de gênero e cor relacionados ao esporte – foi a primeira mulher brasileira a participar de uma final olímpica, e única mulher da delegação do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964. Na ocasião, mesmo sem apoio técnico ou uniforme (que precisou ser adaptado do traje de um outro evento), alcançou o lendário quarto lugar da competição; melhor resultado individual de uma atleta brasileira em Jogos Olímpicos durante 32 anos.
Ela competiu sem uniforme, sem sapatilhas, sem técnico, e com um dos pés lesionados, mas, com determinação e força para conseguir bater o recorde nacional na final. O descaso, fruto de uma sociedade que na época via mulheres no esporte com maus olhos, começou antes mesmo da competição, quando Aída e outra atleta negra foram obrigadas a passar por 5 eliminatórias, mesmo já tendo atingido o índice olímpico da época.
Nascida em 1937, ela foi campeã estadual, brasileira, sul-americana e pan-americana de salto em altura e, quatro anos após Tóquio 1964,
competiu no pentatlo nos Jogos da Cidade do México, mostrando ser uma atleta completa. Durante um longo período de sua carreira, Aída se dividia em uma tripla jornada: pela manhã ia às aulas, trabalhava à tarde, e treinava à noite. Formou-se em pedagogia, educação física e geografia, e de 1975 a 1987, foi professora de educação física na Universidade Federal Fluminense (UFF).