Brasileiras que fizeram história – Daiane dos Santos

Difícil quem nunca tenha ouvido seu nome, ou visto uma apresentação sua ao som da música Brasileirinho. Primeira campeã mundial da ginástica artística brasileira, em Anaheim 2003, Daiane dos Santos é sinônimo de brasilidade; internacionalmente conhecida. A ex-atleta, que tinha o solo como especialidade, foi um dos principais nomes do esporte no início do século 21. Hoje, no último capítulo série Brasileiras que Fizeram História, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, conheceremos um pouco mais de sua trajetória.

Daiane criou dois movimentos da modalidade, em parceria com o treinador ucraniano Oleg Ostapenko, que foram eternizados pela Federação Internacional de Ginástica (FIG) e hoje levam seu nome: o duplo twist carpado (Dos Santos I) e o duplo twist esticado (Dos Santos II). Ao todo, a gaúcha tem 9 medalhas de ouro em etapas de Copa do Mundo da modalidade, e 5 medalhas – duas de prata e três de bronze – em Jogos Pan-Americanos: Winnipeg 1999, Santo Domingo 2003 e Rio 2007. A ex-ginasta também participou de três edições de Jogos Olímpicos – Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012.

Porém, nem sempre as coisas foram fáceis para Daiane. Ela conta que, logo no começo de sua carreia, sofreu com os estereótipos associados a mulher e ao esporte, em uma época ainda mais opressora. “Até então algumas pessoas não conheciam muito bem a ginástica, mas sabiam que era um esporte que deixava a mulher com o corpo mais definido”, relembra a ex-ginasta. Isso na década de 90, causou burburinho, porque muitas pessoas não achavam legal. “Minha mãe ouviu muito ‘ah, ela vai ficar com o corpo igual de homem, vai parecer um machinho porque ela vai ficar muito musculosa, muito forte; eu se fosse você não deixava ela fazer ginástica’. Como se as mulheres não pudessem ter corpos musculosos, definidos”, completa Daiane.

Sobre a representatividade feminina cenário universitário, Daiane conta que, em sua época, as competições tinham uma grande presença feminina, ainda mais na ginástica artística, um esporte popularmente conhecido pelo feminino e pela parte artística. “Então a gente tem muito essa ligação da ginástica feminina, não só no Brasil; mas no mundo. Aqui acho que acontece muito o contrário: a gente tem um pouco de preconceito quanto a questão do menino que pratica ginástica, assim como o que dança ballet, que faz atividades mais artísticas”, esclarece.

Os dois momentos citados por Daiane exemplificam como os estereótipos de gênero agem, delimitando as funções de homens e mulheres, até dentro do esporte. Na primeira situação, meninas; jovens atletas, foram apontadas como masculinas, caso ganhassem massa muscular e ficassem fortes. Julgadas sob um padrão estético imposto a milhares de anos. Em contra partida, meninos, homens, muitas vezes são vistos com maus olhos ao praticarem determinadas atividades, como se não tivessem um lado artístico que pudesse ser explorado e desenvolvido.

Hoje, após anos ocupando as primeiras colocações do ranking mundial, Daiane não tem mais a ginástica como profissão. Defensora da dupla jornada – estudos e treinos, se formou em Educação Física e atualmente trabalha como empresária, junto ao Projeto Brasileirinhos, no qual é fundadora. Com a iniciativa, Daiane fomenta a cultura do esporte na periferia paulistana, e dá a 250 crianças da comunidade de Paraisópolis, novas possibilidades de futuro. Além disso, também segue na luta por mais oportunidades e igualdade para a mulher atleta:

“Ainda existem situações onde as meninas e as mulheres não tem oportunidade de participar de esportes, esportes que ainda são vistos como só para homens, e não para mulheres. […] A gente tem as questões ainda de desigualdade financeira, onde há muita discrepância em alguns esportes quanto ao que o homem ganha, e quanto ao que a mulher ganha, e também no quesito estrutura. E eu acho que o mais difícil de tudo, é a questão de gestores, de mulheres em cargos de chefia, de gestão, como treinadoras, coordenadoras e presidentes, de clubes e entidades esportivas. A gente vê essa desigualdade ainda muito grande, de oportunidade e de credibilidade do trabalho dessas mulheres. Então a gente vive nesse mundo que ainda é muito machista, muito fechado para as mulheres na área esportiva, e a gente precisa mudar isso; é preciso reverter isso. E eu acho que a ONU tem feito um trabalho incrível; a ONU Mulheres no Brasil tem feito trabalho crível, assim como vários outros departamentos esportivos o próprio Comitê Olímpico do Brasil também tem feito um trabalho para reverter essa situação”, finaliza Daiane.

Confira os demais capítulos da série Brasileiras que Fizeram História: Amandinha, Cristiana Lobo, Edênia Garcia e Rosicleia Campos.

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